terça-feira, 15 de novembro de 2016

CGD e a tragédia de Antígona


Muito se tem falado nos últimos meses sobre a Caixa Geral de Depósitos.
Apesar do meu défice de conhecimentos financeiros, sempre pensei que o ‘dinheiro’ do Estado estivesse na Caixa Geral de Depósitos e como tal não percebia o que seria a ‘recapitalização da Caixa’…
Um destes dias alguém me disse que o Estado Português tem dinheiro noutras entidades financeiras, em Portugal e no estrangeiro, e como tal irá transferir parte desses ativos para a CGD, tendo havido autorização prévia da Comissão Europeia, nomeadamente relativa às questões de ‘concorrência’.
Colocando de parte as questões financeiras, questiono simplesmente “O silêncio dos Inocentes” (expressão que corresponde aqui ao partido dos Camaradas) ou a “tragédia de Antígona” (figura da mitologia grega, expressão que aqui corresponde à atriz de teatro, coordenadora do movimento político de cidadãs e cidadãos), designadamente os arautos da geringonça.

Sugiro que por momentos façamos a seguinte reflexão.
1) Estamos com um Governo de Centro Direita, de um partido que não ganhou as eleições mas que tem maioria parlamentar;
A esquerda aceitaria em silêncio (dos inocentes…)!

2) Passaram mais de 7 meses desde a tomada de posse e mais de 3 meses do legítimo pedido de saída dos elementos da Administração da CGD; (novo governo, nova administração);
A esquerda aguentava… (se os sem-abrigo aguentam…)!

3) O Ministro da Finanças pede a esses administradores que se mantenham em funções (gestão corrente) até à nomeação e tomada de posse da nova equipa, uma vez que tem tido muito trabalho;
A esquerda entendia como razoável todo este tempo de espera… (também se espera nos serviços de urgência… e ninguém morre por isso)!

4) Eram nomeados como Administradores Executivos da CDG, entenda-se do Banco Público, gestores não públicos, grande parte deles com origem na ‘Banca Privada’, e com vencimentos, pagos pelos contribuintes, várias vezes superiores ao do Primeiro-ministro;
A esquerda aceitava… (o cargo de primeiro ministro é que está mal remunerado…)!

5) O governo criava uma legislação específica que dispensa que esses gestores não públicos apresentem ao tribunal constitucional as declarações de rendimento e de património;
A esquerda concorda… (têm direito à sua privacidade…imaginem que algum deles vive em união de facto com outro cidadão do mesmo género… não podem ser alvo de discriminação)!

No final desta história toda, vamos ver que foi uma verdadeira “Tragédia de Antígona”, onde esta figura mítica acaba por assistir à morte dos dois irmãos quando, imagine-se, lutavam um contra o outro para alcançar o trono…

Agora Acordem! “Inocentes” e “Antígona” suportam o Governo da Republica. Até quando? não sei, mas ouvi dizer que o Ministro das Finanças vai sair do governo…!




segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Trumpestade ou Monica Clinton



Durante mais de seis meses e a cerca de 5 mil km de distância fui (fomos) assistindo ao processo de eleição do próximo presidente dos EUA, cujo resultado estamos à beira de conhecer.
Dizem que os EUA são o país da liberdade e onde melhor se exerce a democracia. Porque será?
a)      Desde 1853 que só existem presidentes com origem num partido. Num de dois possíveis… Republicano (18) ou democrata (13);
b)      São os ‘Estados Unidos’ mas há estados em que ainda existe Pena de Morte;
c)      O candidato que obtiver mais votos pode não ser o vencedor;
d)      Nesta eleição em particular ficamos a saber muito pouco (ou quase nada) sobre a perspetiva que cada candidato tem sobre questões essenciais para a humanidade como sejam ambiente, segurança, economia…
Dir-se-á que a democracia é o menos mau de todos os sistemas de organização social e de representação politica dos interesses comuns. Mas, como em tudo, tem limitações.
A esta hora estamos perante incerteza de resultado, sendo que por um lado poderemos dizer: “damos-lhe o benefício da dúvida, e votamos Trump” e por outro dizer: “impossível ter aquele como presidente, e votamos Clinton”. Trump está e estará no centro das atenções e seguramente no centro da decisão de muitos votos. Nele ou contra ele. E isso, quer se queira quer não fará dele um vencedor de popularidade.
Clinton arrisca-se a ganhar depois de ter apanhado um susto durante as últimas semanas de campanha. Trump arrisca-se a ganhar, ficando eu com a ideia que ele seria(á) o “Boris Johnson” Americano (aquele que defendeu o Brexit e depois deixou o partido conservador, que propôs o referendo).
Não deixa também de ser curioso que depois do lendário, carismático e assassinado John F. Kennedy, do demissionário Nixon, do ator Regan, do Pai e Filho Bush e do Afroamericano Obama, venhamos agora a ter não o filho/descendente mas a esposa/’ascendente’ de um ex-presidente. Bill Clinton, Aquele presidente que melhor negociou o conflito Israel/Palestina mas que ficará na história pela frase: ”I did not have sexual relations with that woman
É também curioso apreciarmos algumas sondagens que referem que se fossem os europeus a votar, votaríamos de forma esmagadora em Clinton… já por cá, e em vários processos eleitorais, estamos ‘fartos’ de eleger Trumpestades… mas estas, aos olhos dos abstencionistas convictos, parece que só provocam Trumnados lá para os lados das Américas.

A falta de memória coletiva de como é viver num outro regime (comunista, fascista, monárquico, ‘faraónico’…), faz com que nos abstenhamos de participar nos processo democráticos, incluindo votações/eleições, permitindo naturalmente que apareçam figuras com tanto de superficialidade como de populismo, e como tal com elevada probabilidade de vencer… vamos ver!

sexta-feira, 12 de agosto de 2016


Incêndio no Inverno, e o 'frete politico' a ferro e fogo

Naturalmente que no verão os incêndios são um drama para as populações, um negócio para diversas áreas de uma «economia sombria» e um 'frete' para os políticos... já que a concretização de politicas de ordenamento, desenvolvimento e protecção do território é uma absoluta miragem dos últimos 40 anos...
Acontece que nas próximas 3 estações 'ninguém' irá falar deste «dinheiro queimado».
Não sendo um especialista neste domínio, penso, analiso e dou uns ‘bitaites’. Aqui vão:
- é sabido que o êxodo  rural fez com que as matas e florestas ficassem abandonadas;
- o desenvolvimento da floresta, não só como ‘património nacional’ mas também como valor económico não foi tido em consideração pelos pequenos proprietários, nem pelo Estado;
- mata/floresta queimada sempre esteve associada a interesse da economia «transformadora de madeira», bem como de grandes (influentes) complexos urbanísticos;
- a tão apregoada reflorestação, mais não foi do que plantar eucaliptos para produção de papel… desenfreadamente;
- voluntários, estudantes, funcionários das autarquias, agentes de segurança, militares entre outros, a vigilar as matas/florestas… é coisa de meninos…
- disponibilizar meios da força aérea para combater incêndios, não pode ser porque podemos, de repente ser atacados por algum… inimigo!

Não obstante todos estes pressupostos, o que mais me impressiona é o ‘provincianismo bacoco’ da comunicação social… a fazerem verdadeiros Reality show em direto… quem tem a imagem com a labareda maior? ou o jornalista mais perto do fogo, ou o cidadão que mais perdeu? Bom bom para o espetáculo era um jornalista queimado…
Mas o que já não se vê, é aquela comunicação social
acutilante, incisiva e exigente com a governação.
Aquela que em ano de muito menos incêndios, afirmava aos sete ventos e a fortes plumões: com este governos estamos a ‘Ferro’ e ‘ Fogo’!



segunda-feira, 11 de julho de 2016

Dois anos de diferença

GOOOOLLLOOOOOO!
A racionalidade do treino, da preparação, da tácita ou da motivação estremeceu na emoção da lesão do CR7, do poste do Patrício, da barra do Guerreiro e do golo do Éder! A vitória da seleção é de todos nós. Cada um sente este momento com seu, único, intransmissível mas distribuível. Cruzamos na rua com alguém que enverga um qualquer símbolo nacional e sorrimos, contagiamos de energia… abraçamos e sentimos. Pátria, Nação, Identidade, Pertença, Portugalidade… esta alegria dá para dar sem se perder ou se esgotar…
CR7 foi até ao momento o melhor futebolista Português (alguém com mais conhecimento de futebol poderá extrapolar para mundial) de todos os tempos.
É um futebolista por inteiro. Nasceu, sofreu, cresceu, fez-se, aperfeiçoou-se, em toda a plenitude: Homem, Atleta, Exemplo, Líder. Também ontem terá provado lágrimas de dor, e saboreado lágrimas de contentamento. Para a borboleta a lágrima não foi de dor, foi sabor de vida. Alguns crentes viram ali o toque de pai a acalmar o filho: ‘calma, descansa, tens outra missão a cumprir. Acredita!’. E assim foi. Outros mais biólogos ou caricatos viram ali a metamorfose do pantera negra a sussurrar: ‘diz ao Éder que eu (pantera) vou marcar um golo!’ E assim foi.
O último mês, em particular o dia de ontem, foi de soberba cooperação e superação. E estes serão porventura os melhores preceitos do Futebol para uma sociedade repleta de egoísmos, vaidades e individualismos.
27 anos depois jamais se lembrará, jamais esquecerei. No Estoril Praia para ele foi mais um ano como treinador, para mim foi o ano como jogador. Recordo bem a persistência, o trabalho rigoroso, o trato afável, sem ser eloquente nos discursos. Homem simples irradiava otimismo. “anda miúdo, vai, acredita…” jamais esquecerei!
Mas quis o destino aproximar os dois homens que hoje levantaram a taça à chegada a Portugal. O primeiro iniciou-se como treinador (1987) dois anos depois do nascimento do segundo (1985). O segundo chegou a campeão europeu (liga dos campeões) e da Europa (Euro 2016) aos 31 anos. O primeiro começou como treinador com 33 anos

As elipses de vida de dois homens de diferentes gerações quiseram-se tocar agora para proporcionar este momento fantástico… mas não obstante a enorme euforia, estão já a iniciar processo de afastamento natural. Euforia e nostalgia… e acalmia! 
GOOOOLLLOOOOOO!
A racionalidade do treino, da preparação, da tácita ou da motivação estremeceu na emoção da lesão do CR7, do poste do Patrício, da barra do Guerreiro e do golo do Éder! A vitória da seleção é de todos nós. Cada um sente este momento com seu, único, intransmissível mas distribuível. Cruzamos na rua com alguém que enverga um qualquer símbolo nacional e sorrimos, contagiamos de energia… abraçamos e sentimos. Pátria, Nação, Identidade, Pertença, Portugalidade… esta alegria dá para dar sem se perder ou se esgotar…
CR7 foi até ao momento o melhor futebolista Português (alguém com mais conhecimento de futebol poderá extrapolar para mundial) de todos os tempos.
É um futebolista por inteiro. Nasceu, sofreu, cresceu, fez-se, aperfeiçoou-se, em toda a plenitude: Homem, Atleta, Exemplo, Líder. Também ontem terá provado lágrimas de dor, e saboreado lágrimas de contentamento. Para a borboleta a lágrima não foi de dor, foi sabor de vida. Alguns crentes viram ali o toque de pai a acalmar o filho: ‘calma, descansa, tens outra missão a cumprir. Acredita!’. E assim foi. Outros mais biólogos ou caricatos viram ali a metamorfose do pantera negra a sussurrar: ‘diz ao Éder que eu (pantera) vou marcar um golo!’ E assim foi.
O último mês, em particular o dia de ontem, foi de soberba cooperação e superação. E estes serão porventura os melhores preceitos do Futebol para uma sociedade repleta de egoísmos, vaidades e individualismos.
27 anos depois jamais se lembrará, jamais esquecerei. No Estoril Praia para ele foi mais um ano como treinador, para mim foi o ano como jogador. Recordo bem a persistência, o trabalho rigoroso, o trato afável, sem ser eloquente nos discursos. Homem simples irradiava otimismo. “anda miúdo, vai, acredita…” jamais esquecerei!
Mas quis o destino aproximar os dois homens que hoje levantaram a taça à chegada a Portugal. O primeiro iniciou-se como treinador (1987) dois anos depois do nascimento do segundo (1985). O segundo chegou a campeão europeu (liga dos campeões) e da Europa (Euro 2016) aos 31 anos. O primeiro começou como treinador com 33 anos

As elipses de vida de dois homens de diferentes gerações quiseram-se tocar agora para proporcionar este momento fantástico… mas não obstante a enorme euforia, estão já a iniciar processo de afastamento natural. Euforia e nostalgia… e acalmia! 

sexta-feira, 1 de julho de 2016

... refletir sobre 20 anos!













Percurso Profissional (Apresentado no Concurso Para Especialista Académico)
Em diferentes momentos da vida, aparentes pequenas oportunidades provocaram grandes metamorfismos pessoais, familiares e profissionais.
Foi assim em 1995 (Coimbra), 2001 (Universidade Atlântica), 2003 (Instituto Piaget), 2007 (Ordem dos Enfermeiros) e também em 2011.
A frequência do Curso Superior de Enfermagem em Coimbra, tendo eu crescido em Sintra, permitiu-me reforçar a responsabilidade do que hoje, vinte anos volvidos, se reconhece por desenvolvimento profissional.
Fruto do caminho percorrido, atualmente reflito com mais amplitude sobre a frase de Ortega “O homem é o homem e a sua circunstância”.
Os sete anos de exercício profissional com enfermeiro (cuidados gerais) na Unidade de Cuidados Intensivos de Neurocirurgia do Hospital de S. José, foram uma verdadeira ‘escola profissional’, cujo impacto no meu desenvolvimento só terá sido percecionado em anos posteriores. Decorrente do trabalho, dedicação, pesquisa, discussão intra equipa, bem como de reflexão na e sobre as práticas, ‘fui’ Patricia Benner antes de a conhecer.
Se numa fase inicial, estive centrado no domínio da componente técnica, progressivamente a energia de um jovem enfermeiro foi direcionada para as famílias e para a equipa.
Consciente deste facto, não vislumbro porém quem ‘chegou primeiro’, se a família se a equipa.
A intensa participação nas discussões sobre Enfermagem, o acompanhamento de estudantes em Ensino Clínico e, apesar de com menos frequência a integração de jovens profissionais, prepararam-me ou desencadearam um enorme interesse pela dimensão pedagógica/educativa.
Este processo causava um relativo paradoxo de sentimentos.
A evidente satisfação pelo resultado desta profícua interação formativa era, introspetivamente ensombrado pelo receio de estagnação.
Num contexto em que a oferta formativa na área de enfermagem (especialidades) era bastante limitada, para não dizer inacessível, a um enfermeiro com pouco mais de dois anos de experiência profissional, experiência essa que muitas vezes era o critério decisivo, o curso de Licenciatura em Gestão em Saúde surgiu como percursor de mais um metamorfismo.
A proximidade geográfica da Universidade à residência, bem como a possibilidade de frequência às aulas em regime pós-laboral, foram acessórios favoráveis a acrescentar à possibilidade concreta de adquirir conhecimentos em Gestão e assim melhor compreender e intervir junto da equipa.
Competente mas talvez ainda não proficiente. O percurso profissional, apesar de exercido no mesmo serviço, foi enriquecido em consequência das inúmeras análises situacionais mais globais que parcelares. O contexto de exercício profissional passou de átomo a cosmos e o desempenho foi segura e continuamente melhorado. A prestação de cuidados não era apenas uma fase de ‘um processo de enfermagem’. A prestação de cuidados era hauptmotiv do desempenho profissional.
A equilibrada trilogia entre ser, crescer e formar foi fortemente influenciada pelo início estruturado de atividade docente, oportunidade que curiosamente não surge pelo reconhecimento de competências mas sim pelo reconhecimento de qualificações.
O cidadão que no contexto de exercício de enfermagem seria mais perito que proficiente, era agora iniciado na docência.
O percurso seguinte determinou uma perspetiva profissional dicotómica, dual ou paralela. Enfermagem ou Gestão. Emoção ou razão. Desejável ou possível. Prestação de cuidados ou Docência.
Num percurso de grande satisfação profissional com a prestação de cuidados, fui sentindo progressivamente cada vez mais estabilidade, confiança e segurança alicerçado no reconhecimento multidisciplinar.
A frequência do Curso de Complemento de Formação em Enfermagem acrescentou menos que o expectável. Talvez por elevadas e desmesurada expectativas pessoais ou por dessincronia entre o momento cronológico e percurso trilhado.
Durante dois anos letivos, a avaliação positiva do desempenho com docente no curso de Gestão em Saúde da Universidade Atlântica, e como enfermeiro no Hospital de S. José, não foram razão bastante para ser reconhecido pela então coordenação do Curso de Licenciatura em Enfermagem da mesma Universidade e a mudança voltou a acontecer.
A emoção queria Enfermagem, mas a razão procurou a Gestão. O desejável seria docente em Barcarena/Lisboa, o possível foi Viseu.
A admissão no Programa de Doutoramento em nuevas tendências en direción de la empresa da Universidade de Salamanca com aulas em Viseu, despoletou o contacto e posterior colaboração com o Instituto Piaget.
Vivi neste momento, porventura uma das fases mais intensas e conturbadas. Uma ‘verdadeira’ crisálida que rompe com a zona de conforto e provoca na sua vida uma efetiva rutura epistemológica de Thomas Kuhn. As semanas passaram divididas entre Lisboa e Viseu.
A emoção queria a Atlântica; a razão apontava para o Piaget.
O processo de integração a um novo contexto geográfico, social e profissional, efetivou-se de forma favorável tendo sido muito evidente a melhoria que foi incorporada na organização e no ensino do curso de enfermagem, nomeadamente ao nível das aulas teórico/práticas e nos ensinos clínicos. Contudo a estratégia da Escola em Viseu era substancialmente distinta da que defendi, nomeadamente ao nível de número de estudantes, qualificação do corpo docente, diferenciação do ensino e tipologia de oferta formativa.
A proposta de regresso à Universidade Atlântica, sem dela nunca ter saído, permitiu-me o exercício profissional como docente simultaneamente nas duas áreas. Enfermagem e Gestão.
Sequencialmente surge a oportunidade de colaborar com a Escola Nacional de Saúde Pública, integrando um grupo de investigadores. Esta atividade veio a demonstrar-se fundamental para orientação dos estudantes na realização dos trabalhos de final de curso, que à época incorporavam as componentes metodologica e empírica de investigação.
A bonança outrora almejada foi sendo alcançada.
A docência na área de Gestão em Saúde estava alicerçada nos conhecimentos adquiridos ‘em Salamanca’ e nas competências de investigação.
A docência na área da Enfermagem, com a assunção de maiores responsabilidades na área de urgência/emergência, nomeadamente por ser coordenador da Pós-graduação nessa área específica, coadjuvadas ao facto de ter exercido na Unidade de Cuidados Intensivos, naturalmente fizeram emergir a necessidade de formação acrescida na área de Enfermagem Médico-Cirúrgica.
A estrutura do Curso de Mestrado em Ciência de Enfermagem, especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica da Universidade Católica respondia a esse desígnio.
A frequência do referido curso, evidenciou uma parte teórica satisfatória, destacando os ensinos clínicos como a componente mais relevante para o meu desenvolvimento profissional.
A área ‘opcional’ selecionada foi a Comissão de Controlo de Infeção, tendo como horizonte a competência específica do enfermeiro especialista: «maximiza a intervenção na prevenção e controlo de infeção perante a pessoa em situação criativa e/ou falência orgânica, face á complexidade da situação e à necessidade de respostas em tempo útil e adequadas».
Neste contexto focamos a nossa atenção para o desenvolvimento de ações promotoras de higienização das mãos por parte dos profissionais de saúde, bem como na elaboração de 'Bundles' sobre a colocação de cateteres venosos centrais.
Esta área de atenção, prevenção de infeções associadas a cuidados de saúde (IACS), foi central nos ensinos clínicos seguintes que decorreram na Unidade de Cuidados Intensivos de Neurocirurgia do Hospital de S. José e no Serviço de Urgência do Hospital de S. Francisco Xavier.
O ensino clínico nestas duas unidades permitiu-me (re)adquirir competências técnicas, bem como (re)encontrar as famílias e as equipas. Reconheço e reforço a extrema relevância que os ensinos clínicos desempenharam no meu percurso profissional, mas a mais-valia ocorreu sobretudo porque mobilizei, quase de imediato, a área da prevenção das IACS para as devidas unidades curriculares do Curso de Licenciatura em Enfermagem e Pós-graduação de Urgência e Emergência hospitalar.
Na época, ser regente das Unidades Curriculares de Enfermagem Médico-Cirurgica, Enfermagem de Emergência no Curso de Licenciatura de Enfermagem, bem como da abordagem ao doente neurocritico na Pós-Graduação de Cuidados Intensivos para Enfermeiros, permitiu proceder a essa integração, respeitando obviamente a matriz principal dos referidos Cursos/Unidades Curriculares.
No ano letivo seguinte, em articulação com o Gabinete de Pós-Graduações da Universidade e no respeito pela autonomia científica e pedagógica, propus que a Pós-Graduação de Urgência e Emergência integrasse na sua estrutura curricular a área da prevenção de Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde.
Para além da docência na área de Enfermagem, na área de Gestão em Saúde, e nas Pós-Graduações, desenvolvei na Universidade Atlântica funções de gestão, nomeadamente como assessor do Reitor, integrando o Gabinete de Estudos e Planeamento. Desta forma colaborei na organização da distribuição de serviço docente; participei nos processos de autoavaliação dos cursos; e integrei o grupo para implementação do processo de avaliação dos docentes;
Nesta fase no meu percurso profissional a amplitude das funções que desempenhava na Universidade Atlântica eram complementadas como as responsabilidades de Vogal do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros.
Apesar de diversificada, muito complexa e exigente, a Universidade foi-se tornando um espaço de conforto profissional. Conhecia a cultura organizacional, as pessoas, funcionários, dirigentes e professores. Participei em alguns espaços reservados de análise, discussão e definição de estratégica de uma Universidade que apesar de ‘privada’ tinha como principal acionista uma Câmara Municipal.
Vi, senti e vivi, ao longo de mais de 15 anos de relação com esta Universidade os impactos dos legítimos interesses e desinteresses políticos. Também aqui poderíamos recorrer à profundidade que dos apresenta Noam Chomsky sobretudo na “reciprocidade entre política e teoria da linguagem/comunicação”.
Em 2012 assumo funções de Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Sul e volto a mais uma metamorfose.
As diversas responsabilidades estatutárias exigiram significativa dedicação, o que implicou uma redução progressiva na atividade na Universidade. Voltámos a ser crisálida.
Saímos do ‘átomo’ Universidade para abraçar um ‘cosmos’ com 4,4 milhões de habitantes, 27 mil enfermeiros, 3 Administrações Regionais de Saúde, 3 Unidades Locais de Saúde, 27 unidades hospitalares, 9 centros hospitalares, 18 Agrupamentos de Centros de Saúde, 203 Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, 154 Unidades de Saúde Familiar, 95 Unidades de Cuidados na Comunidade, 21 Unidades de Saúde Pública, 117 Unidades de Internamento da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, 14 Estabelecimentos de Ensino Superior com Curso de Enfermagem…
Liderei a equipa de 19 enfermeiros membros efetivos dos órgãos regionais, num mandato de imensas concretizações… para os enfermeiros, os serviços, as instituições, os cidadãos, as famílias e a sociedade.
Recordo e reescrevo uma ideia transmitida no relatório de estágio elaborado e apresentado aquando da defesa do título de Mestre.
«As atividades desenvolvidas neste mandato serão seguramente de maior amplitude e profundidade que a capacidade de memória, registo, análise e síntese o permitem.»
Em função das 18 competências do Conselho Diretivo Regional, inscritas no ponto 2, do artº 46, da Lei nº 156/2015, destaco três áreas de atuação:
Acompanhamento do exercício profissional;
Representação da Secção Regional;
Participação na definição de política regional e comunicação externa;
A dimensão e heterogeneidade de contextos de prática clínica determinaram a realização de forma sistemática e contínua Visitas de Acampamento de Exercício Profissional.
Constatamos que as principais áreas de atenção foram: dotações (in)seguras, limitações nos sistemas de informação e défice de organização de serviços/recursos.
Ao longo de 4 anos verificamos de forma reiterada a existência de uma relação paradoxal:
As pessoas e as famílias, fruto do contexto socioeconómico desfavorável, apresentam mais necessidades em saúde e de maior complexidade.
Por outro lado, os serviços e as equipas possuem gradualmente menos recursos. Daqui resulta um efetivo comprometimento para a Enfermagem, estando os enfermeiros exclusivamente absorvidos na realização de atividades (tarefas) diárias e simultaneamente aleados/vítimas do desenvolvimento profissional, que, nestes contexto passará a ser mais controlado/decidido por não enfermeiros.
A representação da Secção Regional, permitiu naturalmente o contacto com um sem número de instituições e organismos públicos, privados e do setor social, nacionais e estrangeiros, que exigiram elevada capacidade de comunicação e participação, na constante afirmação da Enfermagem.
A relação institucional com estruturas de poder regional (ARS) e de poder local (Hospitais, ACES e Municípios) permitiu apresentar propostas concretas de melhoria das respostas às necessidades dos cidadãos, destacando a recomendação profissional aprovada em Assembleia Regional. Destaco também a realização conjunta de uma conferência de imprensa com o Conselho Diretivo Regional do Sul da Ordem dos Médicos sobre a proposta de Orçamento do Estado para o ano de 2015, e consequente reunião com a Comissão Parlamentar de Saúde.
No âmbito da comunicação externa, de referir os inúmeros textos produzidos na imprensa escrita sobre Sistema de Saúde e as reportagens televisivas promovidas e acompanhadas sobre ‘casos positivos’ de Enfermagem.
Olho o passado…! Indubitavelmente nostalgia e confiança.
Reflito sobre o passado até onde a memória me permite alcançar e de imediato surge o pensamento complexo de Edgar Morin.
Vou ‘…olhar sobre o ombro’ (L. Nunes) para pensar em conjunto as realidades entrelaçadas e complexas como o ‘Cuidar’ de Hesbeen, as intervenções dos enfermeiros no REPE e as competências dos enfermeiros de cuidados gerais e dos enfermeiros especialistas.
E desse olhar emergem… transições (A. Meleis)
--- Fim do Documento ---


sábado, 25 de junho de 2016

Ato Médico. Sintonia, Matreirice e "comer de cebolada"

De tempos a tempos surge a discussão do 'ato médico', cada vez com "fundamentos" mais rebuscados! O candidato a bastonário da ordem dos médicos, neste artigo alude à corrupção por falta de definição jurídica de 'ato médico'...! Incrível! O 'problema' dos médicos (de alguns) não está na usurpação de funções quando a D Maria da mercearia do mercado da ribeira sugere, numa tal consulta, que a sua vizinha Emília coma menos bananas e mais romãs por causa dos diabretes, ou que o Sr Zé Manel da barbearia de Coimbra diga ao Sr Miguel que para a dor de dentes o melhor é a bela aguardente caseira do Sr Pedro...
O problema dos médicos são, a autonomia de aconselhamento e venda de medicamentos por parte dos farmacêuticos, autonomia da intervenção dos fisioterapeutas, o resultado das ditas alternativas/complementares (homeopatia, acumpultura e muitas outras) ou a autonomia de exercício do efetivo enfermeiro de família (não o é 'apenas' por trabalhar numa USF, já para não equacionar a literacia em saúde... que um destes dias, saber será crime!
Noutros tempos as razões podiam ser outras, mas hoje, a aprovação mais que evidente do 'ato médico' só pode estar relacionada com tentativa de dominância hegemónica dos médicos sobre os outros, todos os outros, profissionais na área da saúde. Para mim, entre Ordens não existe "usurpação de funções" (crime público punível até 3 anos de prisão efetiva) mas sim negociação, clarificação e entendimento estratégico... Claro que o REPE (aprovado em 1996) tem uma configuração lata, global, abrangente... Mas sabemos que na discussão prévia ao REPE, havia (também enfermeiros) que defendiam o 'ato de enfermagem' (uma lista de tarefas que os enfermeiros estariam autorizados a realizar... e, naturalmente, sob prescrição e supervisão médica).
A sintonia entre cessante e pretendente (bastonários médicos) é evidente perante o artigo já referido e este publicados em dias seguintes.
Já a matreirice está na expressão, agora, repetida tantas e tantas vezes publicamente pelo autor do segundo. Agora que já está de saída da Gago Coutinho, afirma do arauto da sua posição paternalista dominante, "como é possível estarmos a exportar tantos enfermeiros quando fazem falta ao sistema de saúde português?"... O mesmo que em 2014 afirmava que os cuidados de saúde primários não precisavam de "enfermeiro sinaleiro" (na discussão do enfermeiro de família). E perante este lume brando da cebolada, lá vai a outra representante profissional colocar-se a jeito dizendo, também repetidamente, "nunca como agora, as nossas Ordens estiverem tão de acordo, Sr. Dr."!

O 'ato médico' vai agora ser aprovado. Não foi no verão de 1999 (coincidência ser novamente no verão, mas agora será sob anestesia geral... do Europeu de futebol) por ação de grande coragem política do então Presidente da República Jorge Sampaio, que vetou a aprovação da lei da AR.

Não esquecer que estamos hoje numa conjuntura política de esquerda; onde o Primeiro Ministro para se manter à tona de água até segura o chapéu de chuva do Presidente da República; onde este é tão popular que faz <flash interview> de futebol; numa Europa fraca perante brexit; e numa fase em que a falta de visão de futuro para a nossa profissão é por demais evidente, lamentável e mais que percebida pelo decisor.
O que será também interessante de apreciar, pós aprovação do 'ato médico' serão os votos de vitória que todos irão fazer... Sendo que já estou a ver a outra representante profissional e fieis súbditos afirmarem aos 'sete ventos' (redes sociais e vídeos promocionais) que a proposta inicial era muito pior, e que conseguiram alterar esse documento a bem da profissão. Não me preocupa especificamente a "letra da lei" que será escrita, mas o sentido/tendência da(s) Política(s)...
Depois da lei 2/2013 que regula a atividade das Ordens ter 'amputado drasticamente' a autonomia destas, do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros de 2015 impedir liminarmente a possibilidade de criação de condições favoráveis e regulamentares de acesso à profissão, a aprovação do 'ato médico' relega a Enfermagem Portuguesa para a década de 70.

Assim sendo, resta-nos como estratégico para a profissão e para a qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem para os Portugueses, falar de: carência (Portugal precisa de 20 mil enfermeiros (!)) assédio moral, burnout, encerramento de camas (está prevista a construção de mais hospitais (!) e de mais vagas em cuidados continuados (!)) denúncias nominais serviço a serviço (quais justiceiros dos tempos antigos) e, mais recentemente, que os enfermeiros Portugueses (licenciados, com vasta 'formação ao longo da vida') afinal precisam de mais formação... Há que admitir, há por ai uma representante que é visionária!



quarta-feira, 20 de abril de 2016

Porque vivemos em democracia?

Tenho para mim que as revoluções sociais e políticas, por conseguinte exacerbação de ideologias, são desencadeadas pela constatação de grandes, por vezes progressivas, assimetrias financeiras e económicas.
Tenho também para mim que o Homem (homens e mulheres) só estabelecem objetivos que sabem poder alcançar, com mais ou menos trabalho, esforço e/ou sacrifício. Decorre deste pressuposto que o equilíbrio, satisfação, e felicidade humanas dependem em primeira instância da expectativa de cada um, e não tanto do que se alcança em absoluto. Provavelmente, o meu sobrinho que faz este ano 18 anos, no primeiro dia em que conduzir um carro sentir-se-á tanto (ou mais) feliz que o Cristiano Ronaldo ao conduzir o seu novo "Ferrari!" Essa satisfação é também progressivamente decrescente com a utilização do produto. O segundo dia do 'novo' carro não será tão entusiasmante até ao ponto em que conduzir só voltará a ser satisfatório com... um novo Ferrari! (o primeiro carro que conduzi foi-me emprestado por um familiar. Era um fiat panda, branco, três portas...)
Existe, na natureza das relações humanas, como que uma necessidade de altos e baixos, de oscilações mais positivas ou mais negativas, de perdas e conquistas, de fluxos laminar e turbulento. Acontece na relação de cada um de nós consigo próprio, na aquisição e utilização de produtos, na relação que estabelecemos com os outros...
E como será nos processos de organização social?
Estaremos alheados da vantagem de conduzir um carro e preferimos provocar um acidente para passarmos a andar a pé?
Estaremos de tal forma desacreditados com a democracia, que um destes dias acordamos confortavelmente a viver num regime totalitário?
Considero que existe uma grande distinção entre valor da democracia e valor dos eleitos democraticamente. A organização da sociedade, suportada na democracia, provavelmente será consensual entre os portugueses. Da mesma forma, mas em sentido contrário, a maioria da população não se revê no comportamento de grande parte dos políticos.
Hoje, anestesiados com o deprimente circo mediático da presidência do Brasil, não nos indignamos com a demagogia no discurso da política Portuguesa. Candidatos que prometem determinadas medidas (mais emprego, menos impostos) e que depois de eleitos aumentam impostos e não garantem condições para efetiva criação de emprego, são tão frequentes nos últimos 20 anos de governação que «o povo» já aceita que assim seja.
Imaginemos que um qualquer candidato, teria nas últimas eleições legislativas proposto manter a carga fiscal (IVA e IRS/IRC), o congelamento das progressões na função pública e manutenção (com tendência para reduzir) das contribuições sociais? Quantos votos iria obter…?
Sou então levado a crer (crença) que o ‘político’ para ser eleito, terá de apresentar propostas ‘agradáveis’ aos eleitores, sabendo desde logo que essas propostas serão ‘não concretizáveis’.
Após a eleição, gere o seu timing político (carreira) para em momento oportuno vir explicar, frequentemente em tom vitimizado, que o ‘interesse nacional’ (demagogia) se sobrepõe à verticalidade e honestidade que se impõe ao ‘homem como animal político’ (na versão de Aristóteles).
Constato que o ‘homem político’ sabe que hoje, para aceder ao poder e com isso pretender ‘fazer o bem’, terá de usar esta demagogia. Constato mas não concordo! Aliás discordo veementemente!
Acontece portanto, e aqui talvez a minha maior preocupação, que o exercício da política (ações dirigidas para o bem público e bem estar de toda a sociedade) a par da valorização da democracia, deram rapidamente lugar ao exercício do poder recorrendo a estratégias/técnicas de comunicação ‘de massas’, declinando em absoluto o imperativo da ética de responsabilidade.
A procura do bem comum e o exercício do poder, são ambas legítimas dimensões da ciência política ‘moderna’… mas o segundo é e tem de ser, um meio para atingir o primeiro, e não um fim em si mesmo…

Estive esta semana com um concidadão do norte da europa, que a propósito do que se comenta «nos Paços da Comissão Europeia» sobre as discrepâncias entre o orçamento do estado para 2016 já aprovado na AR e o programa de estabilidade exigido por essa mesma comissão, fez o mesmo ar de espanto que um de nós ao olhar/ouvir declarações dos 367 deputados brasileiros que votaram a favor do impeachment da Presidente Dilma…
e não me parece que a semelhança/diferença seja de índole geográfica...

Beijos e Abraços
AT

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Dia Mundial da Saúde.
Saboreio um quadrado de chocolate enquanto escrevo este texto, no dia mundial da saúde, ‘dedicado’ este ano à Diabetes.
Pensar a saúde de uma comunidade é de facto um enorme desafio.
Hoje, apenas vou lançar tópicos para a discussão/textos seguintes:
1) OMS, Adelaide 2010
2) OMS, Helsínquia 2013 
3) Comissário Europeu da Saúde e Segurança Alimentar, Vytenis Andriukaitis hoje e amanhã em Portugal.
Afirmou que deve haver uma:
«mudança radical que permita passar do tratamento de doenças para a promoção de uma boa saúde e temos de começar pelos nossos cidadãos mais jovens». Uma em cada cinco crianças em idade escolar é obesa ou tem já excesso de peso e este número está a aumentar. A menos que comecemos a incutir na nova geração, desde o início, hábitos alimentares saudáveis e exercício físico, iremos criar uma geração de crianças que são “gordas para toda a vida” e sistemas de saúde que lutam para controlar a situação».
E mais
4) Amanhã talvez dê um pulo ao Mercado da Ribeira
5) Hoje o Ministério da Saúde atribuiu 8 (oito) medalhas de serviços distintos do Ministério da Saúde.
6 a médicos e 2 a não médicos

Saúde para todos…

AT

segunda-feira, 28 de março de 2016

Pós atentado Belga/Europeu

22 de março 2016. O dia dos atentados em Bruxelas.
Ficará marcado como o dia em que simbolicamente os ‘terroristas’ atentaram contra o «centro» da Europa.
Nos inúmeros comentários e perspetivas sobre atentados terroristas que tivemos durante estes dias foi recorrente a relação com movimentos radicais ligados ao Islão. O discurso fácil será o de atribuir a um conjunto de pessoas com sanidade duvidosa a responsabilidade individual e exclusiva de tais comportamentos. O discurso difícil (muito difícil) será identificar fatores externos aos próprios que determinaram tais comportamentos. Estamos provavelmente a cometer um ‘erro antigo’ aquando da abordagens sobre o consumo de substancias ilícitas (drogas, à exceção do álcool). Em tempos, para investigar esses consumos, a pergunta de partida era: o que determinou o início de consumo de um consumidor? Para esta pergunta surgiam as naturais respostas… ‘fraca’ personalidade, famílias destruturadas, facilmente influenciável pelo grupo de pares, carências afetivas… et al
Contudo, verificávamos também que pessoas com ‘fraca’ personalidade, oriundas de famílias destruturadas, com carências afetivas e que pertenciam ao mesmo grupo de pares, não iniciavam consumos, ou se iniciavam não os mantinham. Esta evidência, eu diria também empírica, redirecionou as seguintes perguntas de partida para: quais os fatores protetores que determinam que os não consumidores o não sejam.
Evoco esta analogia, procurando centrar o olhar não tanto no 'transgressor' mas sim no 'respeitador' e relei-o uma frase do observador: “Entre os 19 bairros de Bruxelas, Molenbeek é o que tem maior densidade populacional. Vivem ali aproximadamente 100 mil pessoas e, entre estas, 30% são estrangeiras e outros 40% têm antepassados fora da Bélgica. O desemprego é altíssimo — enquanto na Bélgica a taxa é de apenas 8,5%, em Molenbeek estima-se que o número chegue aos 30%. Entre jovens, é de 40%.
Recordo a propósito de bairros com necessidades particulares, os conflitos em França no tempo do Presidente Nicolas Sarkozy, desencadeados por adolescentes/adultos jovens e que foram travados tão-somente… desligando a corrente elétrica desses bairros! Impossibilitados de usar os elevadores dos prédios mantiveram-se nos apartamentos!
Um ato suicida contra civis, meticulosamente delineado é de alguma forma contra-natura. Como é contra-natura ter política de imigração porventura laxista (não me estou a referir aos recentes fluxos de refugiados para a Europa) sem políticas de integração. Como é termos política externa sem termos política internacional de aproximação, como é termos defesa nacional sem termos defesa pessoal (dos direitos da pessoa), como é contra-natura pretender limitar o uso de armas sem diminuir a produção de armamento.
Os ataques terroristas não serão apenas um problema/causa. Eles são sintoma/efeito de uma globalização assimétrica, promotora tanto de desigualdades sociais como de expectativas desiguais.
Recupero um provérbio que dizem ser africano: “se queres ir rápido vai sozinho, se queres ir longe vai acompanhado”.
Se pretendem ir rápido, reforcem a segurança com polícias e militares, condicionem a liberdade de circulação, e preparem-se para mais ataques.
Se pretendem ir longe, reduzam as desigualdades, promovam a inclusão e a participação cívica, a integração e a multiculturalidade, e talvez tenhamos menos ataques.

No dia 11 de setembro de 2001 estava na Turquia. 22 de março de 2016 em casa… no futuro será imprevisível…
AT

quarta-feira, 9 de março de 2016

... das mulheres


Aconteceu sair um texto no dia seguinte à comemoração do dia da mulher. Ao revisitar leituras mais antigas ou mais recentes tropeço em duas peculiares frases:
"Os homens estão num dilema. Temem a mulher mas, ao mesmo tempo, dão-lhe toda a importância para efeitos da sua autoafirmação". e
"O ferimento mais profundo que é infligido a uma mãe na nossa sociedade, não é só a sua opressão, mas a sua adaptação ao mito masculino da respetiva superioridade e a aceitação da própria insignificância."
 
Escrever sobre este dia podia ter por base o trágico/heroico acontecimento que determinou que o dia escolhido para homenagear as mulheres fosse o 8 de março. Ou derramar lamurias perante as atrocidades anti- femíneo, como seja, da violência doméstica à mutilação genital; da hipocrisia social perante poligamia feminina ao assédio no local de trabalho; das barreiras à progressão na carreira à ‘super mãe bimby/rainbow ’; da discriminação laboral ao tráfico de ‘seres humanas’;
Mas porque hoje saiu de cena o presidente da República Portuguesa Aníbal Cavaco Silva, o homem que foi à Figueira da Foz fazer a rodagem do carro e acabou a liderar a política portuguesa dos últimos 30 anos, irei referir-me a 3 ministras da saúde destas 3 décadas.
 
Leonor Beleza (1985-1990) Conceituada jurista com prévio percurso político e partidário. Liderou o Ministério na fase inicial de implantação universal do Serviço Nacional de Saúde, simultaneamente com uma forte e progressiva melhoria tecnológica nas unidades hospitalares. Viveu a fase de transição entre a alteração da Constituição da República (1989), onde o ‘gratuito’ passou a ‘tendencialmente gratuito’ e a Lei de Bases da Saúde (1990, já aprovado com o mesmo Primeiro Ministro mas com outro Ministro da Saúde) que abriu portas a novas formas de gestão no sistema de saúde. Teve como diretora geral do Departamento de Recursos Humanos da saúde (organismo público que estruturava/definia a contratações e progressões de todas as profissões de saúde) a Enfª Mariana Diniz de Sousa, que viria a ser a 1ª bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Num tempo em que a sociedade portuguesa ‘despertava’ do pós-revolução, e como tal exigia menores assimetrias sociais, ousou enfrentar um grupo profissional à época ainda mais elitista. Recordo as frutuosas conversas que tive com alguns colegas de um serviço de urgência que tão bem descreviam as noites em que a Ministra entrava no SU como doente… para em seguida tirar o ‘disfarce’ e pedir a lista de médicos escalados… Terminou o mandato atraiçoada/envolvida no que viria a ser «o caso das transfusões de sangue ‘contaminado’ a doentes hemofílicos» (a vingança serve-se fria, neste caso bem a baixo da temperatura necessária para conservar plasma). Hoje é presidente do Conselho de Administração de Fundação Champalimaud.
 

Maria de Belém (1995-1999) Jurista e militante partidária.
Era Ministra quando comecei a trabalhar como enfermeiro. Constituiu e liderou um grupo de personalidades/pensadores da Saúde que produziram alguns dos documentos mais relevantes sobre planeamento em saúde em Portugal de que tenho conhecimento. Resolveu, em concertação, o problema ‘crónico’ dos recibos verdes, garantindo a ascensão automática à categoria de enfermeiros graduado de todos os enfermeiros com 6 anos de exercício efetivo de funções. Concretizou a publicação do REPE (apesar do trabalho ter sido iniciado e incentivado pelo seu antecessor) tendo a criação da Ordem dos Enfermeiros (1998) ocorrido durante o seu mandato. Termina o seu mandato vítima da visão progressista apresentada pelos seus brilhantes ‘assessores’. A tentativa de introdução de graduais mas profundas reformas no Sistema de Saúde, naturalmente contra alguns poderes instalados (os do costume), fez rufar novamente os destintos estetoscópios. Ainda me recordo da expressão do então Primeiros Ministro: “não podemos fazer reformas contra os profissionais”. Transitou para o Ministério da Igualdade. Deputada, foi candidata a Presidente da Republica.

 

Ana Jorge (2008-2011) médica e discreta militante partidária.
Inicia o mandato após fortes críticas ao seu antecessor (muitas delas infundadas) da ‘opinião pública’ (influenciada). Permite a consolidação da reorganização dos cuidados de saúde primários iniciada poucos anos antes e concretiza a rede nacional de cuidados continuados integrados. Geriu com parcimónia alguns malabarismos promovidos por secretários de estado, procurando encontrar alicerces em ambas as margens para a edificação de pontes. Numa sessão pública, ‘confrontada’ com o facto dos jornalistas não a ouvirem ao fundo da sala, respondeu com elegância: “Sou pediatra. Estou habituada a falar com crianças e por isso falo baixinho”. Concretizou-se com esta ministra a alteração do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros, com a introdução do Modelo de Desenvolvimento Profissional. Ainda me recordo do local onde almocei com ilustres colegas no dia em que se soube desse facto… Hoje mantém ligação ao Hospital Garcia de Orta.

Dos fracos (homens) não reza esta história…


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

1ª mensagem neste blog

Gosto que leiam e sobretudo que comentem o que escrevo.
talvez seja uma forma de começar...
A folha está em branco mas os relevos do teclado, aliados às complexas ligações neuronais permitem uma infinidade de opções...
As expectativas são doseadas... espero tão somente ter noites para alimentar com regularidade este blog.
Uma destas noites poderá ser oportuno refletir sobre:

legitimidade de eleitos e cumplicidade de eleitores, ou
democracia e competência
política e sociedade
justiça e desemprego
Trotsky e Nietzsche
idosos e imigrantes
orçamento e Gil Vicente
eutanásia e Amsterdão
amigos e transeuntes
saúde e desenvolvimento
Coimbra e Rapperswil
ballet e Duchamp
ordens e sindicalistas
empresas e urbanismo
rosas e fluoxetina
parlamento e Pollock
ensino e PNUD
Fernando Pessoa e Ricardo Reis
Tu e Mozart

mas hoje estamos só a começar.
AT