Tenho para mim que as revoluções sociais e políticas, por
conseguinte exacerbação de ideologias, são desencadeadas pela constatação de
grandes, por vezes progressivas, assimetrias financeiras e económicas.
Tenho também para mim que o Homem (homens e mulheres) só
estabelecem objetivos que sabem poder alcançar, com mais ou menos trabalho,
esforço e/ou sacrifício. Decorre deste pressuposto que o equilíbrio,
satisfação, e felicidade humanas dependem em primeira instância da expectativa
de cada um, e não tanto do que se alcança em absoluto. Provavelmente, o meu
sobrinho que faz este ano 18 anos, no primeiro dia em que conduzir um carro sentir-se-á
tanto (ou mais) feliz que o Cristiano Ronaldo ao conduzir o seu novo
"Ferrari!" Essa satisfação é também progressivamente decrescente com
a utilização do produto. O segundo dia do 'novo' carro não será tão
entusiasmante até ao ponto em que conduzir só voltará a ser satisfatório com...
um novo Ferrari! (o primeiro carro que conduzi foi-me emprestado por um familiar. Era um fiat panda, branco, três portas...)
Existe, na natureza das relações humanas, como que uma
necessidade de altos e baixos, de oscilações mais positivas ou mais negativas,
de perdas e conquistas, de fluxos laminar e turbulento. Acontece na relação de
cada um de nós consigo próprio, na aquisição e utilização de produtos, na
relação que estabelecemos com os outros...
E como será nos processos de organização social?
Estaremos alheados da vantagem de conduzir um carro e preferimos provocar um acidente para passarmos a andar a pé?
Estaremos de tal forma desacreditados com a democracia, que
um destes dias acordamos confortavelmente a viver num regime totalitário?
Considero que existe uma grande distinção entre valor da
democracia e valor dos eleitos democraticamente. A organização da sociedade, suportada na democracia, provavelmente será consensual entre os portugueses. Da
mesma forma, mas em sentido contrário, a maioria da população não se revê no
comportamento de grande parte dos políticos.
Hoje, anestesiados com o deprimente circo mediático da
presidência do Brasil, não nos indignamos com a demagogia no discurso da política
Portuguesa. Candidatos que prometem determinadas medidas (mais emprego, menos
impostos) e que depois de eleitos aumentam impostos e não garantem condições
para efetiva criação de emprego, são tão frequentes nos últimos 20 anos de
governação que «o povo» já aceita que assim seja.
Imaginemos que um qualquer candidato, teria nas últimas
eleições legislativas proposto manter a carga fiscal (IVA e IRS/IRC), o
congelamento das progressões na função pública e manutenção (com tendência para
reduzir) das contribuições sociais? Quantos votos iria obter…?
Sou então levado a crer (crença) que o ‘político’ para ser
eleito, terá de apresentar propostas ‘agradáveis’ aos eleitores, sabendo desde
logo que essas propostas serão ‘não concretizáveis’.
Após a eleição, gere o seu timing político (carreira) para em momento oportuno vir explicar, frequentemente
em tom vitimizado, que o ‘interesse nacional’ (demagogia) se sobrepõe à
verticalidade e honestidade que se impõe ao ‘homem como animal político’ (na
versão de Aristóteles).
Constato que o ‘homem político’ sabe que hoje, para aceder
ao poder e com isso pretender ‘fazer o bem’, terá de usar esta demagogia. Constato
mas não concordo! Aliás discordo veementemente!
Acontece portanto, e aqui talvez a minha maior preocupação,
que o exercício da política (ações dirigidas para o bem público e bem estar de
toda a sociedade) a par da valorização da democracia, deram rapidamente lugar
ao exercício do poder recorrendo a estratégias/técnicas de comunicação ‘de
massas’, declinando em absoluto o imperativo da ética de responsabilidade.
A procura do bem comum e o exercício do poder, são ambas legítimas
dimensões da ciência política ‘moderna’… mas o segundo é e tem de ser, um meio
para atingir o primeiro, e não um fim em si mesmo…
Estive esta semana com um concidadão do norte da europa, que
a propósito do que se comenta «nos Paços da Comissão Europeia» sobre as
discrepâncias entre o orçamento do estado para 2016 já aprovado na AR e o programa
de estabilidade exigido por essa mesma comissão, fez o mesmo ar de espanto que
um de nós ao olhar/ouvir declarações dos 367 deputados brasileiros que votaram
a favor do impeachment da Presidente
Dilma…
e não me parece que a semelhança/diferença seja de índole geográfica...
Beijos e Abraços
AT
e não me parece que a semelhança/diferença seja de índole geográfica...
Beijos e Abraços
AT
Parece que o exercício da "democracia" no nosso país se esgota no pequeno processo eleitoral. A partir daí a governação vai a reboque da ambição do exercício do poder, vai a reboque dos interesses financeiros, vai a reboque de obrigações herdadas sempre negligenciando a mão que lhe deu o voto...
ResponderEliminarExiste uma forte assimetria de informação que aparenta não interessar esbater, ela garante espaço para que não hajam altos e baixos, para que não haja turbilhão, carro novo, Ferrari ou Panda... Tudo é nivelado por baixo e com o menor dos alaridos! Sem transparência, sem lugar para escutar as pessoas e as suas legítimas ambições e o mais grave, numa esfera amoral onde a desresponsabilização se justifica. Na pseudodemocracia de hoje, carro emprestado para a primeira voltinha só se for com ficha e com minuto a preço d'ouro para alimentar a "máquina"!
Temos uma democracia doente que sofre de politiquice!
Parabéns pelo artigo ;)