segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Trumpestade ou Monica Clinton



Durante mais de seis meses e a cerca de 5 mil km de distância fui (fomos) assistindo ao processo de eleição do próximo presidente dos EUA, cujo resultado estamos à beira de conhecer.
Dizem que os EUA são o país da liberdade e onde melhor se exerce a democracia. Porque será?
a)      Desde 1853 que só existem presidentes com origem num partido. Num de dois possíveis… Republicano (18) ou democrata (13);
b)      São os ‘Estados Unidos’ mas há estados em que ainda existe Pena de Morte;
c)      O candidato que obtiver mais votos pode não ser o vencedor;
d)      Nesta eleição em particular ficamos a saber muito pouco (ou quase nada) sobre a perspetiva que cada candidato tem sobre questões essenciais para a humanidade como sejam ambiente, segurança, economia…
Dir-se-á que a democracia é o menos mau de todos os sistemas de organização social e de representação politica dos interesses comuns. Mas, como em tudo, tem limitações.
A esta hora estamos perante incerteza de resultado, sendo que por um lado poderemos dizer: “damos-lhe o benefício da dúvida, e votamos Trump” e por outro dizer: “impossível ter aquele como presidente, e votamos Clinton”. Trump está e estará no centro das atenções e seguramente no centro da decisão de muitos votos. Nele ou contra ele. E isso, quer se queira quer não fará dele um vencedor de popularidade.
Clinton arrisca-se a ganhar depois de ter apanhado um susto durante as últimas semanas de campanha. Trump arrisca-se a ganhar, ficando eu com a ideia que ele seria(á) o “Boris Johnson” Americano (aquele que defendeu o Brexit e depois deixou o partido conservador, que propôs o referendo).
Não deixa também de ser curioso que depois do lendário, carismático e assassinado John F. Kennedy, do demissionário Nixon, do ator Regan, do Pai e Filho Bush e do Afroamericano Obama, venhamos agora a ter não o filho/descendente mas a esposa/’ascendente’ de um ex-presidente. Bill Clinton, Aquele presidente que melhor negociou o conflito Israel/Palestina mas que ficará na história pela frase: ”I did not have sexual relations with that woman
É também curioso apreciarmos algumas sondagens que referem que se fossem os europeus a votar, votaríamos de forma esmagadora em Clinton… já por cá, e em vários processos eleitorais, estamos ‘fartos’ de eleger Trumpestades… mas estas, aos olhos dos abstencionistas convictos, parece que só provocam Trumnados lá para os lados das Américas.

A falta de memória coletiva de como é viver num outro regime (comunista, fascista, monárquico, ‘faraónico’…), faz com que nos abstenhamos de participar nos processo democráticos, incluindo votações/eleições, permitindo naturalmente que apareçam figuras com tanto de superficialidade como de populismo, e como tal com elevada probabilidade de vencer… vamos ver!

sexta-feira, 12 de agosto de 2016


Incêndio no Inverno, e o 'frete politico' a ferro e fogo

Naturalmente que no verão os incêndios são um drama para as populações, um negócio para diversas áreas de uma «economia sombria» e um 'frete' para os políticos... já que a concretização de politicas de ordenamento, desenvolvimento e protecção do território é uma absoluta miragem dos últimos 40 anos...
Acontece que nas próximas 3 estações 'ninguém' irá falar deste «dinheiro queimado».
Não sendo um especialista neste domínio, penso, analiso e dou uns ‘bitaites’. Aqui vão:
- é sabido que o êxodo  rural fez com que as matas e florestas ficassem abandonadas;
- o desenvolvimento da floresta, não só como ‘património nacional’ mas também como valor económico não foi tido em consideração pelos pequenos proprietários, nem pelo Estado;
- mata/floresta queimada sempre esteve associada a interesse da economia «transformadora de madeira», bem como de grandes (influentes) complexos urbanísticos;
- a tão apregoada reflorestação, mais não foi do que plantar eucaliptos para produção de papel… desenfreadamente;
- voluntários, estudantes, funcionários das autarquias, agentes de segurança, militares entre outros, a vigilar as matas/florestas… é coisa de meninos…
- disponibilizar meios da força aérea para combater incêndios, não pode ser porque podemos, de repente ser atacados por algum… inimigo!

Não obstante todos estes pressupostos, o que mais me impressiona é o ‘provincianismo bacoco’ da comunicação social… a fazerem verdadeiros Reality show em direto… quem tem a imagem com a labareda maior? ou o jornalista mais perto do fogo, ou o cidadão que mais perdeu? Bom bom para o espetáculo era um jornalista queimado…
Mas o que já não se vê, é aquela comunicação social
acutilante, incisiva e exigente com a governação.
Aquela que em ano de muito menos incêndios, afirmava aos sete ventos e a fortes plumões: com este governos estamos a ‘Ferro’ e ‘ Fogo’!



segunda-feira, 11 de julho de 2016

Dois anos de diferença

GOOOOLLLOOOOOO!
A racionalidade do treino, da preparação, da tácita ou da motivação estremeceu na emoção da lesão do CR7, do poste do Patrício, da barra do Guerreiro e do golo do Éder! A vitória da seleção é de todos nós. Cada um sente este momento com seu, único, intransmissível mas distribuível. Cruzamos na rua com alguém que enverga um qualquer símbolo nacional e sorrimos, contagiamos de energia… abraçamos e sentimos. Pátria, Nação, Identidade, Pertença, Portugalidade… esta alegria dá para dar sem se perder ou se esgotar…
CR7 foi até ao momento o melhor futebolista Português (alguém com mais conhecimento de futebol poderá extrapolar para mundial) de todos os tempos.
É um futebolista por inteiro. Nasceu, sofreu, cresceu, fez-se, aperfeiçoou-se, em toda a plenitude: Homem, Atleta, Exemplo, Líder. Também ontem terá provado lágrimas de dor, e saboreado lágrimas de contentamento. Para a borboleta a lágrima não foi de dor, foi sabor de vida. Alguns crentes viram ali o toque de pai a acalmar o filho: ‘calma, descansa, tens outra missão a cumprir. Acredita!’. E assim foi. Outros mais biólogos ou caricatos viram ali a metamorfose do pantera negra a sussurrar: ‘diz ao Éder que eu (pantera) vou marcar um golo!’ E assim foi.
O último mês, em particular o dia de ontem, foi de soberba cooperação e superação. E estes serão porventura os melhores preceitos do Futebol para uma sociedade repleta de egoísmos, vaidades e individualismos.
27 anos depois jamais se lembrará, jamais esquecerei. No Estoril Praia para ele foi mais um ano como treinador, para mim foi o ano como jogador. Recordo bem a persistência, o trabalho rigoroso, o trato afável, sem ser eloquente nos discursos. Homem simples irradiava otimismo. “anda miúdo, vai, acredita…” jamais esquecerei!
Mas quis o destino aproximar os dois homens que hoje levantaram a taça à chegada a Portugal. O primeiro iniciou-se como treinador (1987) dois anos depois do nascimento do segundo (1985). O segundo chegou a campeão europeu (liga dos campeões) e da Europa (Euro 2016) aos 31 anos. O primeiro começou como treinador com 33 anos

As elipses de vida de dois homens de diferentes gerações quiseram-se tocar agora para proporcionar este momento fantástico… mas não obstante a enorme euforia, estão já a iniciar processo de afastamento natural. Euforia e nostalgia… e acalmia! 
GOOOOLLLOOOOOO!
A racionalidade do treino, da preparação, da tácita ou da motivação estremeceu na emoção da lesão do CR7, do poste do Patrício, da barra do Guerreiro e do golo do Éder! A vitória da seleção é de todos nós. Cada um sente este momento com seu, único, intransmissível mas distribuível. Cruzamos na rua com alguém que enverga um qualquer símbolo nacional e sorrimos, contagiamos de energia… abraçamos e sentimos. Pátria, Nação, Identidade, Pertença, Portugalidade… esta alegria dá para dar sem se perder ou se esgotar…
CR7 foi até ao momento o melhor futebolista Português (alguém com mais conhecimento de futebol poderá extrapolar para mundial) de todos os tempos.
É um futebolista por inteiro. Nasceu, sofreu, cresceu, fez-se, aperfeiçoou-se, em toda a plenitude: Homem, Atleta, Exemplo, Líder. Também ontem terá provado lágrimas de dor, e saboreado lágrimas de contentamento. Para a borboleta a lágrima não foi de dor, foi sabor de vida. Alguns crentes viram ali o toque de pai a acalmar o filho: ‘calma, descansa, tens outra missão a cumprir. Acredita!’. E assim foi. Outros mais biólogos ou caricatos viram ali a metamorfose do pantera negra a sussurrar: ‘diz ao Éder que eu (pantera) vou marcar um golo!’ E assim foi.
O último mês, em particular o dia de ontem, foi de soberba cooperação e superação. E estes serão porventura os melhores preceitos do Futebol para uma sociedade repleta de egoísmos, vaidades e individualismos.
27 anos depois jamais se lembrará, jamais esquecerei. No Estoril Praia para ele foi mais um ano como treinador, para mim foi o ano como jogador. Recordo bem a persistência, o trabalho rigoroso, o trato afável, sem ser eloquente nos discursos. Homem simples irradiava otimismo. “anda miúdo, vai, acredita…” jamais esquecerei!
Mas quis o destino aproximar os dois homens que hoje levantaram a taça à chegada a Portugal. O primeiro iniciou-se como treinador (1987) dois anos depois do nascimento do segundo (1985). O segundo chegou a campeão europeu (liga dos campeões) e da Europa (Euro 2016) aos 31 anos. O primeiro começou como treinador com 33 anos

As elipses de vida de dois homens de diferentes gerações quiseram-se tocar agora para proporcionar este momento fantástico… mas não obstante a enorme euforia, estão já a iniciar processo de afastamento natural. Euforia e nostalgia… e acalmia! 

sexta-feira, 1 de julho de 2016

... refletir sobre 20 anos!













Percurso Profissional (Apresentado no Concurso Para Especialista Académico)
Em diferentes momentos da vida, aparentes pequenas oportunidades provocaram grandes metamorfismos pessoais, familiares e profissionais.
Foi assim em 1995 (Coimbra), 2001 (Universidade Atlântica), 2003 (Instituto Piaget), 2007 (Ordem dos Enfermeiros) e também em 2011.
A frequência do Curso Superior de Enfermagem em Coimbra, tendo eu crescido em Sintra, permitiu-me reforçar a responsabilidade do que hoje, vinte anos volvidos, se reconhece por desenvolvimento profissional.
Fruto do caminho percorrido, atualmente reflito com mais amplitude sobre a frase de Ortega “O homem é o homem e a sua circunstância”.
Os sete anos de exercício profissional com enfermeiro (cuidados gerais) na Unidade de Cuidados Intensivos de Neurocirurgia do Hospital de S. José, foram uma verdadeira ‘escola profissional’, cujo impacto no meu desenvolvimento só terá sido percecionado em anos posteriores. Decorrente do trabalho, dedicação, pesquisa, discussão intra equipa, bem como de reflexão na e sobre as práticas, ‘fui’ Patricia Benner antes de a conhecer.
Se numa fase inicial, estive centrado no domínio da componente técnica, progressivamente a energia de um jovem enfermeiro foi direcionada para as famílias e para a equipa.
Consciente deste facto, não vislumbro porém quem ‘chegou primeiro’, se a família se a equipa.
A intensa participação nas discussões sobre Enfermagem, o acompanhamento de estudantes em Ensino Clínico e, apesar de com menos frequência a integração de jovens profissionais, prepararam-me ou desencadearam um enorme interesse pela dimensão pedagógica/educativa.
Este processo causava um relativo paradoxo de sentimentos.
A evidente satisfação pelo resultado desta profícua interação formativa era, introspetivamente ensombrado pelo receio de estagnação.
Num contexto em que a oferta formativa na área de enfermagem (especialidades) era bastante limitada, para não dizer inacessível, a um enfermeiro com pouco mais de dois anos de experiência profissional, experiência essa que muitas vezes era o critério decisivo, o curso de Licenciatura em Gestão em Saúde surgiu como percursor de mais um metamorfismo.
A proximidade geográfica da Universidade à residência, bem como a possibilidade de frequência às aulas em regime pós-laboral, foram acessórios favoráveis a acrescentar à possibilidade concreta de adquirir conhecimentos em Gestão e assim melhor compreender e intervir junto da equipa.
Competente mas talvez ainda não proficiente. O percurso profissional, apesar de exercido no mesmo serviço, foi enriquecido em consequência das inúmeras análises situacionais mais globais que parcelares. O contexto de exercício profissional passou de átomo a cosmos e o desempenho foi segura e continuamente melhorado. A prestação de cuidados não era apenas uma fase de ‘um processo de enfermagem’. A prestação de cuidados era hauptmotiv do desempenho profissional.
A equilibrada trilogia entre ser, crescer e formar foi fortemente influenciada pelo início estruturado de atividade docente, oportunidade que curiosamente não surge pelo reconhecimento de competências mas sim pelo reconhecimento de qualificações.
O cidadão que no contexto de exercício de enfermagem seria mais perito que proficiente, era agora iniciado na docência.
O percurso seguinte determinou uma perspetiva profissional dicotómica, dual ou paralela. Enfermagem ou Gestão. Emoção ou razão. Desejável ou possível. Prestação de cuidados ou Docência.
Num percurso de grande satisfação profissional com a prestação de cuidados, fui sentindo progressivamente cada vez mais estabilidade, confiança e segurança alicerçado no reconhecimento multidisciplinar.
A frequência do Curso de Complemento de Formação em Enfermagem acrescentou menos que o expectável. Talvez por elevadas e desmesurada expectativas pessoais ou por dessincronia entre o momento cronológico e percurso trilhado.
Durante dois anos letivos, a avaliação positiva do desempenho com docente no curso de Gestão em Saúde da Universidade Atlântica, e como enfermeiro no Hospital de S. José, não foram razão bastante para ser reconhecido pela então coordenação do Curso de Licenciatura em Enfermagem da mesma Universidade e a mudança voltou a acontecer.
A emoção queria Enfermagem, mas a razão procurou a Gestão. O desejável seria docente em Barcarena/Lisboa, o possível foi Viseu.
A admissão no Programa de Doutoramento em nuevas tendências en direción de la empresa da Universidade de Salamanca com aulas em Viseu, despoletou o contacto e posterior colaboração com o Instituto Piaget.
Vivi neste momento, porventura uma das fases mais intensas e conturbadas. Uma ‘verdadeira’ crisálida que rompe com a zona de conforto e provoca na sua vida uma efetiva rutura epistemológica de Thomas Kuhn. As semanas passaram divididas entre Lisboa e Viseu.
A emoção queria a Atlântica; a razão apontava para o Piaget.
O processo de integração a um novo contexto geográfico, social e profissional, efetivou-se de forma favorável tendo sido muito evidente a melhoria que foi incorporada na organização e no ensino do curso de enfermagem, nomeadamente ao nível das aulas teórico/práticas e nos ensinos clínicos. Contudo a estratégia da Escola em Viseu era substancialmente distinta da que defendi, nomeadamente ao nível de número de estudantes, qualificação do corpo docente, diferenciação do ensino e tipologia de oferta formativa.
A proposta de regresso à Universidade Atlântica, sem dela nunca ter saído, permitiu-me o exercício profissional como docente simultaneamente nas duas áreas. Enfermagem e Gestão.
Sequencialmente surge a oportunidade de colaborar com a Escola Nacional de Saúde Pública, integrando um grupo de investigadores. Esta atividade veio a demonstrar-se fundamental para orientação dos estudantes na realização dos trabalhos de final de curso, que à época incorporavam as componentes metodologica e empírica de investigação.
A bonança outrora almejada foi sendo alcançada.
A docência na área de Gestão em Saúde estava alicerçada nos conhecimentos adquiridos ‘em Salamanca’ e nas competências de investigação.
A docência na área da Enfermagem, com a assunção de maiores responsabilidades na área de urgência/emergência, nomeadamente por ser coordenador da Pós-graduação nessa área específica, coadjuvadas ao facto de ter exercido na Unidade de Cuidados Intensivos, naturalmente fizeram emergir a necessidade de formação acrescida na área de Enfermagem Médico-Cirúrgica.
A estrutura do Curso de Mestrado em Ciência de Enfermagem, especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica da Universidade Católica respondia a esse desígnio.
A frequência do referido curso, evidenciou uma parte teórica satisfatória, destacando os ensinos clínicos como a componente mais relevante para o meu desenvolvimento profissional.
A área ‘opcional’ selecionada foi a Comissão de Controlo de Infeção, tendo como horizonte a competência específica do enfermeiro especialista: «maximiza a intervenção na prevenção e controlo de infeção perante a pessoa em situação criativa e/ou falência orgânica, face á complexidade da situação e à necessidade de respostas em tempo útil e adequadas».
Neste contexto focamos a nossa atenção para o desenvolvimento de ações promotoras de higienização das mãos por parte dos profissionais de saúde, bem como na elaboração de 'Bundles' sobre a colocação de cateteres venosos centrais.
Esta área de atenção, prevenção de infeções associadas a cuidados de saúde (IACS), foi central nos ensinos clínicos seguintes que decorreram na Unidade de Cuidados Intensivos de Neurocirurgia do Hospital de S. José e no Serviço de Urgência do Hospital de S. Francisco Xavier.
O ensino clínico nestas duas unidades permitiu-me (re)adquirir competências técnicas, bem como (re)encontrar as famílias e as equipas. Reconheço e reforço a extrema relevância que os ensinos clínicos desempenharam no meu percurso profissional, mas a mais-valia ocorreu sobretudo porque mobilizei, quase de imediato, a área da prevenção das IACS para as devidas unidades curriculares do Curso de Licenciatura em Enfermagem e Pós-graduação de Urgência e Emergência hospitalar.
Na época, ser regente das Unidades Curriculares de Enfermagem Médico-Cirurgica, Enfermagem de Emergência no Curso de Licenciatura de Enfermagem, bem como da abordagem ao doente neurocritico na Pós-Graduação de Cuidados Intensivos para Enfermeiros, permitiu proceder a essa integração, respeitando obviamente a matriz principal dos referidos Cursos/Unidades Curriculares.
No ano letivo seguinte, em articulação com o Gabinete de Pós-Graduações da Universidade e no respeito pela autonomia científica e pedagógica, propus que a Pós-Graduação de Urgência e Emergência integrasse na sua estrutura curricular a área da prevenção de Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde.
Para além da docência na área de Enfermagem, na área de Gestão em Saúde, e nas Pós-Graduações, desenvolvei na Universidade Atlântica funções de gestão, nomeadamente como assessor do Reitor, integrando o Gabinete de Estudos e Planeamento. Desta forma colaborei na organização da distribuição de serviço docente; participei nos processos de autoavaliação dos cursos; e integrei o grupo para implementação do processo de avaliação dos docentes;
Nesta fase no meu percurso profissional a amplitude das funções que desempenhava na Universidade Atlântica eram complementadas como as responsabilidades de Vogal do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros.
Apesar de diversificada, muito complexa e exigente, a Universidade foi-se tornando um espaço de conforto profissional. Conhecia a cultura organizacional, as pessoas, funcionários, dirigentes e professores. Participei em alguns espaços reservados de análise, discussão e definição de estratégica de uma Universidade que apesar de ‘privada’ tinha como principal acionista uma Câmara Municipal.
Vi, senti e vivi, ao longo de mais de 15 anos de relação com esta Universidade os impactos dos legítimos interesses e desinteresses políticos. Também aqui poderíamos recorrer à profundidade que dos apresenta Noam Chomsky sobretudo na “reciprocidade entre política e teoria da linguagem/comunicação”.
Em 2012 assumo funções de Presidente do Conselho Diretivo Regional da Secção Regional do Sul e volto a mais uma metamorfose.
As diversas responsabilidades estatutárias exigiram significativa dedicação, o que implicou uma redução progressiva na atividade na Universidade. Voltámos a ser crisálida.
Saímos do ‘átomo’ Universidade para abraçar um ‘cosmos’ com 4,4 milhões de habitantes, 27 mil enfermeiros, 3 Administrações Regionais de Saúde, 3 Unidades Locais de Saúde, 27 unidades hospitalares, 9 centros hospitalares, 18 Agrupamentos de Centros de Saúde, 203 Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, 154 Unidades de Saúde Familiar, 95 Unidades de Cuidados na Comunidade, 21 Unidades de Saúde Pública, 117 Unidades de Internamento da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, 14 Estabelecimentos de Ensino Superior com Curso de Enfermagem…
Liderei a equipa de 19 enfermeiros membros efetivos dos órgãos regionais, num mandato de imensas concretizações… para os enfermeiros, os serviços, as instituições, os cidadãos, as famílias e a sociedade.
Recordo e reescrevo uma ideia transmitida no relatório de estágio elaborado e apresentado aquando da defesa do título de Mestre.
«As atividades desenvolvidas neste mandato serão seguramente de maior amplitude e profundidade que a capacidade de memória, registo, análise e síntese o permitem.»
Em função das 18 competências do Conselho Diretivo Regional, inscritas no ponto 2, do artº 46, da Lei nº 156/2015, destaco três áreas de atuação:
Acompanhamento do exercício profissional;
Representação da Secção Regional;
Participação na definição de política regional e comunicação externa;
A dimensão e heterogeneidade de contextos de prática clínica determinaram a realização de forma sistemática e contínua Visitas de Acampamento de Exercício Profissional.
Constatamos que as principais áreas de atenção foram: dotações (in)seguras, limitações nos sistemas de informação e défice de organização de serviços/recursos.
Ao longo de 4 anos verificamos de forma reiterada a existência de uma relação paradoxal:
As pessoas e as famílias, fruto do contexto socioeconómico desfavorável, apresentam mais necessidades em saúde e de maior complexidade.
Por outro lado, os serviços e as equipas possuem gradualmente menos recursos. Daqui resulta um efetivo comprometimento para a Enfermagem, estando os enfermeiros exclusivamente absorvidos na realização de atividades (tarefas) diárias e simultaneamente aleados/vítimas do desenvolvimento profissional, que, nestes contexto passará a ser mais controlado/decidido por não enfermeiros.
A representação da Secção Regional, permitiu naturalmente o contacto com um sem número de instituições e organismos públicos, privados e do setor social, nacionais e estrangeiros, que exigiram elevada capacidade de comunicação e participação, na constante afirmação da Enfermagem.
A relação institucional com estruturas de poder regional (ARS) e de poder local (Hospitais, ACES e Municípios) permitiu apresentar propostas concretas de melhoria das respostas às necessidades dos cidadãos, destacando a recomendação profissional aprovada em Assembleia Regional. Destaco também a realização conjunta de uma conferência de imprensa com o Conselho Diretivo Regional do Sul da Ordem dos Médicos sobre a proposta de Orçamento do Estado para o ano de 2015, e consequente reunião com a Comissão Parlamentar de Saúde.
No âmbito da comunicação externa, de referir os inúmeros textos produzidos na imprensa escrita sobre Sistema de Saúde e as reportagens televisivas promovidas e acompanhadas sobre ‘casos positivos’ de Enfermagem.
Olho o passado…! Indubitavelmente nostalgia e confiança.
Reflito sobre o passado até onde a memória me permite alcançar e de imediato surge o pensamento complexo de Edgar Morin.
Vou ‘…olhar sobre o ombro’ (L. Nunes) para pensar em conjunto as realidades entrelaçadas e complexas como o ‘Cuidar’ de Hesbeen, as intervenções dos enfermeiros no REPE e as competências dos enfermeiros de cuidados gerais e dos enfermeiros especialistas.
E desse olhar emergem… transições (A. Meleis)
--- Fim do Documento ---


sábado, 25 de junho de 2016

Ato Médico. Sintonia, Matreirice e "comer de cebolada"

De tempos a tempos surge a discussão do 'ato médico', cada vez com "fundamentos" mais rebuscados! O candidato a bastonário da ordem dos médicos, neste artigo alude à corrupção por falta de definição jurídica de 'ato médico'...! Incrível! O 'problema' dos médicos (de alguns) não está na usurpação de funções quando a D Maria da mercearia do mercado da ribeira sugere, numa tal consulta, que a sua vizinha Emília coma menos bananas e mais romãs por causa dos diabretes, ou que o Sr Zé Manel da barbearia de Coimbra diga ao Sr Miguel que para a dor de dentes o melhor é a bela aguardente caseira do Sr Pedro...
O problema dos médicos são, a autonomia de aconselhamento e venda de medicamentos por parte dos farmacêuticos, autonomia da intervenção dos fisioterapeutas, o resultado das ditas alternativas/complementares (homeopatia, acumpultura e muitas outras) ou a autonomia de exercício do efetivo enfermeiro de família (não o é 'apenas' por trabalhar numa USF, já para não equacionar a literacia em saúde... que um destes dias, saber será crime!
Noutros tempos as razões podiam ser outras, mas hoje, a aprovação mais que evidente do 'ato médico' só pode estar relacionada com tentativa de dominância hegemónica dos médicos sobre os outros, todos os outros, profissionais na área da saúde. Para mim, entre Ordens não existe "usurpação de funções" (crime público punível até 3 anos de prisão efetiva) mas sim negociação, clarificação e entendimento estratégico... Claro que o REPE (aprovado em 1996) tem uma configuração lata, global, abrangente... Mas sabemos que na discussão prévia ao REPE, havia (também enfermeiros) que defendiam o 'ato de enfermagem' (uma lista de tarefas que os enfermeiros estariam autorizados a realizar... e, naturalmente, sob prescrição e supervisão médica).
A sintonia entre cessante e pretendente (bastonários médicos) é evidente perante o artigo já referido e este publicados em dias seguintes.
Já a matreirice está na expressão, agora, repetida tantas e tantas vezes publicamente pelo autor do segundo. Agora que já está de saída da Gago Coutinho, afirma do arauto da sua posição paternalista dominante, "como é possível estarmos a exportar tantos enfermeiros quando fazem falta ao sistema de saúde português?"... O mesmo que em 2014 afirmava que os cuidados de saúde primários não precisavam de "enfermeiro sinaleiro" (na discussão do enfermeiro de família). E perante este lume brando da cebolada, lá vai a outra representante profissional colocar-se a jeito dizendo, também repetidamente, "nunca como agora, as nossas Ordens estiverem tão de acordo, Sr. Dr."!

O 'ato médico' vai agora ser aprovado. Não foi no verão de 1999 (coincidência ser novamente no verão, mas agora será sob anestesia geral... do Europeu de futebol) por ação de grande coragem política do então Presidente da República Jorge Sampaio, que vetou a aprovação da lei da AR.

Não esquecer que estamos hoje numa conjuntura política de esquerda; onde o Primeiro Ministro para se manter à tona de água até segura o chapéu de chuva do Presidente da República; onde este é tão popular que faz <flash interview> de futebol; numa Europa fraca perante brexit; e numa fase em que a falta de visão de futuro para a nossa profissão é por demais evidente, lamentável e mais que percebida pelo decisor.
O que será também interessante de apreciar, pós aprovação do 'ato médico' serão os votos de vitória que todos irão fazer... Sendo que já estou a ver a outra representante profissional e fieis súbditos afirmarem aos 'sete ventos' (redes sociais e vídeos promocionais) que a proposta inicial era muito pior, e que conseguiram alterar esse documento a bem da profissão. Não me preocupa especificamente a "letra da lei" que será escrita, mas o sentido/tendência da(s) Política(s)...
Depois da lei 2/2013 que regula a atividade das Ordens ter 'amputado drasticamente' a autonomia destas, do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros de 2015 impedir liminarmente a possibilidade de criação de condições favoráveis e regulamentares de acesso à profissão, a aprovação do 'ato médico' relega a Enfermagem Portuguesa para a década de 70.

Assim sendo, resta-nos como estratégico para a profissão e para a qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem para os Portugueses, falar de: carência (Portugal precisa de 20 mil enfermeiros (!)) assédio moral, burnout, encerramento de camas (está prevista a construção de mais hospitais (!) e de mais vagas em cuidados continuados (!)) denúncias nominais serviço a serviço (quais justiceiros dos tempos antigos) e, mais recentemente, que os enfermeiros Portugueses (licenciados, com vasta 'formação ao longo da vida') afinal precisam de mais formação... Há que admitir, há por ai uma representante que é visionária!